dezembro 11, 2005

Tou xim?

Como todos sabem, eu sou um tipo muito ocupado e solicitado, pelo que o meu número de telefone circula pelo povo português como o boneco do Noddy circula entre a criançada. Por isso não estranhei quando na semana passada, em pleno lufa-lufa laboral, recebi uma chamada de um número desconhecido no meu telemóvel. Apesar de ter entre mãos o destino do Concelho de Oeiras, não quis deixar desamparada a criatura que me estava a ligar (afinal os grandes Homens medem-se pela quantidade de migalhas dadas à plebe) e atendi.

"- Estou sim?"
"- Estouoa?"
"- Sim, em que posso ajudá-lo?"
"- Fala da vacaria de rand?"
(Pausa. Convulsões internas que desembocam num largo sorriso)
"- Não, caro amigo, deve ser engano."
"- Ai num é? Oh amigo, desculpe lá o mau jeito. Desculpe lá!"

E assim fiquei bem disposto durante todo o dia. Ao senhor incógnito, o meu bem-haja.

Upa cavalinho

Na noite passada (desculpa lá, ó Sergio) estava num bar a experimentar as promoções do dia (shot + imperial por 1,5 euros) e a conversar com um amigo quando reparei no programa que estava a passar na televisão. Era uma reflexão sobre a eterna simbiose do Homem com a Natureza vista sob a perspectiva portuguesa, ou seja, era uma tourada em diferido. Digo-vos já que achei muito mal o coitado do touro andar ali a ser espetado com uns paus no lombo, às tantas mais parecia uma almofada de alfinetes. Se eu fosse touro não ia gostar que me espetassem paus assim, pelas costas, sem pedirem licença nem nada.
Mas o pior é que depois de alfinetarem o touro todo, o cavaleiro ainda começou a gozar com o animal e pôs o cavalo a fazer uns truques catitas, tipo trotes, danças e pinotes e mais umas palhaçadas para inglês ver. Ora, não me venham cá a dizer que o cavalito aprendeu a fazer aquilo tudo à pala de torrões de açucar e tal, porque senão qualquer Pinilla marcava golos atrás de golos - era só ter uns torrões de açucar à mão e pronto.
Ná, o que se passa ali é que o cavalo tem uma série de eléctrodos enfiados debaixo do couro que são accionados pelo cavaleiro através de um comando bluetooth. Então, vamos dar um pinote, zumba!, eléctrodo 2 nas coxas; agora a trote, pás!, electrodos 5a, 5b, 5c e 5d alternados, um em cada perna; e por ai adiante. Agora, quando virem na televisão um cavalo a ajoelhar-se, já sabem, não é inteligência ou treino, é mesmo uma descarga certeira na mioleira (aposto que vocês também se ajoelhavam).
O mais caricato é que só me apercebi deste esquema todo depois de duas promoções do dia - e ainda dizem que o álcool degrada o cérebro.

novembro 17, 2005

Na cabana junto à praia

Ano Novo, Cefaleia Velha, que é como quem diz, mais uns dias de vida perdidos à procura do sítio, Aquele Sítio, o oásis no deserto que vai tornar a noite de fim-de-ano de 2005 a melhor de todas as que já aconteceram e hão-de acontecer. O que, desde logo, me coloca um grande problema: o facto é que, nos últimos 26 anos, já vivi várias vezes a-melhor-passagem-de-ano-de-sempre, logo, bem posso ir bater tachos e panelas para a Praça do Comércio pois dificilmente vou conseguir atingir novamente o Orgasmo Festivo.
Mas como acredito em orgasmos múltiplos (?), para além de ser parolo e ter algum tempo livre, vou iniciar mais uma vez uma Cruzada pela Terra Prometida, ou seja, vou pôr todos os meus amigos, conhecidos, colegas, vendedores da revista Cais e comentadores dos meus blogs a telefonar para as agências de viagens, desde o Cabo de Sagres até Valença do Minho, na vã ilusão de encontrar o sítio perfeito. Este ano, por acaso, até estou com expectativas elevadas, já que vou contar com uma equipa de estudos de mercado em full-time - as pessoas que comentam as coisas que escrevo não têm, DE CERTEZA, mais nada para fazer, e assim sempre podem dizer aos amigos, aos pais e aos avós que estão a fazer uma pesquisa para um trabalho muito importante!...
Os critérios de pesquisa da casa perfeita são:

- tem de ficar perto da praia (de preferência dentro dela);
- tem de ser suficientemente grande para caberem lá dentro 30 pessoas, ou seja, tem de ter 3 quartos e uma sala;
- tem de ter pelo menos 2 casas de banho: uma com banheira, que será utilizada para cagar e mijar, e outra só para o gregório (esta pode ter poliban);
- tem de ficar próxima de outras casas, para podermos vandalizar quando estivermos todos bebêdos;
- tem de ter piscina (mas vazia, não vá alguém morrer afogado);
- tem de ser em Portugal, porque as discotecas e os bares fecham mais tarde;
- e, last but not the least, tem de ter um Lidl ou Dia a menos de 500 metros.

Tendo em conta que o preço não é problema, mas nunca poderá ser superior a 25 euros/noite/pessoa, tenho a certeza de que vou encontrar, cá em baixo, muitas alternativas ao Céu. Em último caso, posso sempre pegar na minha namorada e alugar uma cabana junto à praia, como o José Cid, e (tentar) ter orgasmos múltiplos durante as 12 baladas - o único senão é que o José Cid era roto (ora cliquem lá no título do post e digam o contrário).

novembro 11, 2005

Chilreios à Sexta

Aviso a todos os desgraçados que diariamente fazem a travessia Barreiro-Terreiro do Paço-Barreiro nos luxuosos catamarãs postos ao serviço da plebe: tenham medo! Tenham muito medo! Façam os possíveis por se engripar e entupir o nariz, seja com muco nasal abundante ou com meros tufos de algodão-em-rama. Vão a uma (das 3469957689 que existem em Portugal) lojinha do chinês e comprem uma máscara de oxigénio em 2ª mão, ou um daqueles comprimidos que os espiões usam nos filmes para se suicidarem quando são apanhados pelo eixo do Mal. Ou então cortem no tabaco e no pequeno-almoço no café da esquina e passem a ir de carro para Lisboa, ou onde quer que desperdicem o desgraçado do vosso dia. Mas, por amor de Deus, evitem... bem, vou passar a explicar.
Hoje, sexta-feira, bateram as 17.30h no meu pulso e imediatamente me fiz à estrada, qual rouxinol que chilreia alegremente enquanto voa do seu buraco com cheiro a mofo direito às coloridas flores de Primavera que povoam os campos Alentejanos nos tempos de seca. E assim iniciei as sete provas de Hércules, neste caso, a maratona Oeiras-Baixa da Banheira, com um sorriso nos lábios, porque a partir daquela altura já era Sábado. Já cheirava a Liberdade.
Depois de caminhar por montes e vales, solavancar no comboio e cheirar sovacos multiculturais num autocarro apinhado de pobres, cheguei à embarcação que, qual nau dos Descobrimentos, me ia levar até às terras de sonho e futuro da Margem Sul. Entrei no dito cujo - sempre a sorrir e chilrear - e encontrei o meu lugar junto de um senhor de provecta idade, igualmente sorridente e chilreante, que trajava elegante casaco de tweed verde escuro de marca incerta e calças de sarja cinzentas-escuras Macmoda, correspondentes sem dúvida a um respeitável 46 ou 48, pela medida europeia.
Já sentado na minha poltrona de pele de porco, ou alcatifa, ou lá o que é aquilo, recostei-me e preparei-me para fechar os olhos e sonhar, sonhar com flores ainda mais coloridas, com a forma de costeletas de borrego fritas acompanhadas por cogumelos e arroz, quando me começou a cheirar a esturro. E não eram as costeletas.
Arregalei os olhos, assustado, e senti um grito seco ecoar, mudo, na minha garganta, enquanto o odor a esturricado cedia lugar, num ápice, ao fedor mais hediondo que alguma vez atingiu os meus receptores olfactivos. Virei-me para o lado, a suar e com o coração a bater descompassadamente, convencido de que estávamos a ser atacados por armas químicas e preparado para dar a minha vida pela Pátria, ou pelo menos arrastar-me até à borda do barco e saltar para o Tejo, quando percebi. Não eram armas químicas. Não era a casa de banho que estava com a sanita avariada. Era Ele.
Então não é que o sacana do cota do tweed era uma máquina de peidos ambulante, que se rasgava todo a um ritmo de fazer inveja ao mais tecnicista dos bateristas punk? E fazia-o abafando a rajada com as bordas, de modo a disparar sequências de "pantufas" assassinas. Bem, só vos digo que fiquei de tal forma atordoado com a primeira dose que não fui capaz, por mais que o meu cérebro implorasse, de mexer um músculo sequer para me salvar. Felizmente, estes barcos demoram apenas 20 minutos a fazer o trajecto e o homem só abriu a loja a meio do caminho. Ainda assim, o suficiente para me terem levado de urgência para o hospital quando o barco atracou, dado que fiquei imóvel no meu lugar, de olhos esbugalhados e a babar uma substância verde e viscosa.
Mas não faz mal, porque hoje é sexta-feira e só por isso eu chilreio seja onde for. Pensando bem, talvez fosse essa a razão do peculiar chilrear do meu fedorento companheiro de viagem - afinal a sexta-feira é mágica para todos, trabalhadores e reformados, jovens e velhos, continentes e incontinentes. E a mistela que me deram há bocado para jantar aqui no Hospital, se bem que não fossem costeletas de borrego, também não era nada má.
Mal posso esperar pelo almoço de amanhã.

outubro 03, 2005

Choppes&Sopas

Os brasileiros são realmente um país irmão.
Para além de terem cabeça, tronco e membros como nós, partilham a nossa língua, o bem-amado português de Camões - com a vantagem de serem mais musicais e criativos do que os pacholas dos ‘tugas.
Imaginem que fui a semana passada almoçar com uns colegas a um restaurante, e alguns elementos da comitiva pediram sopa (as mulheres, claro está, porque os homens a sério só comem sopa se for da pedra e ali só havia creme de alho francês). Bem dito, bem feito, das bocas nativas saiu um simples e despido “São três sopas, faz-favor!”, enquanto as mãos rudes de quem trabalha diariamente no duro da Função Pública estropiavam já os indefesos pedaços de broa, ali deixados à mercê dos selvagens.
Dez minutos volvidos, já o massacre da broa tinha terminado há muito e alguém opinava “Deve estar a cag*# agora os alhos na cozinha, ó car@%ho!”, chega a Senhora Dona Empregada, nascida e criada em terras de Santa Cruz, com três lindas imperiais na mão. Ora, ninguém tinha pedido imperais, porque os funcionários da Função Pública não bebem álcool. E perante o nosso olhar atónito (adj.m.: Aparvalhado, esgazeado; mas-que-merda-é-esta?), a menina canta alegremente esta resposta: “Aqui têm seus três choppes, senhores.”
Cá está: um português nunca teria a imaginação suficiente para entregar uma bifana, se alguém lhe pedisse uma banana, enquanto um brasileiro não tem qualquer pejo em entregar três choppes em vez de três sopas. Enfim, podia ter sido pior; pelo menos eram Superbock…

fevereiro 18, 2005

Raza odiada

Tive a ver o Closer à bocado, aquele gajo agora só faz papéis de cabrão. Para quem não viu... bem, também não vou contar a história. Mas agora está na moda dizerem que os homens são todos uns cabrões. 'Pá, eu não concordo nada com isso. E o gajo devia recusar fazer estes papéis de sacana que papa as gajas todas porque aposto que ele não faz isso na vida real e as raparigas que vão com os namorados ver os filmes acabam SEMPRE por se virar para os desgraçados e dizer: "Vocês são todos uns cabrões! Ela devia era largá-lo!". Jude, se me estás a ouvir, não nos enterres e não te esqueças que isso vai acabar por te lixar a ti também. Eu não vi o filme com a minha namorada, mas foi ela que mo emprestou e adivinhem o que me disse? "Bem , aquele gajo é mesmo um belo sacana! São todos iguais...". Ficas já avisado: se eu vier a ter problemas por causa disto, até podes disfarçar as entradas e pôr umas mamas falsas que eu encontro-te. E lixo-te.
Mas vão ver o filme que é porreiro.

Boca-larga

Era tão bom se pudessemos dizer tudo o que nos vem à cabeça. Já imaginaram?

1) Autocarro: "Olhe, desculpe, dá-me licença?" - "Não, não dou. Come menos chocolates e vai ao ginásio, gorda. Ou então arranja um homem para te abater esse rabo brutal. Mas talvez seja mesmo mais fácil ires ao ginásio."
2) Rua: "Tem horas que me diga?" - "Tenho (longa pausa). Mas está um frio do caraças e não me apetece tirar a mão do bolso. É melhor perguntar a outra pessoa ou ir ali ao cigano comprar um Swatch."
3) Metro: "Quem tem uma esmola para o ceguinho?" - "Dá cá essa caixa, velhote, antes que alguém ta roube!"
4) Emprego: "Bom dia!" - "Bom dia o car#$*o!"
5) Loja de roupa: "Boa tarde, posso ajudar em alguma coisa?" - "Olha lá, achas que sou aleijado? Põe-te a andar, parvalhona, 'tou só a ver. Mas digo-te já que a vossa roupa é uma bela me**a!"

Enfim, às vezes sinto-me reprimido, ter que ser sempre simpático é difícil...