fevereiro 05, 2006

Vai-Vém

Cada vez ando mais preocupado com o aumento vertiginoso do número de portugueses que sofrem de perturbações mentais complexas. A quantidade crescente de sócios benfiquistas é disso um excelente exemplo, bem como o facto de várias pessoas terem 3 ou 4 telemóveis, um para cada rede.
Mas, na verdade, o que me tem causado mais angústia é verificar, dia após dia, semana após semana, Morangos com Açucar após Morangos com Açucar, que cada vez existem mais condutores-autistas. Com certeza todos vocês conhecem ou já viram, pelo menos uma vez, um daqueles condutores que estacionam o carro com uma primeira manobra perfeita para depois, sem qualquer razão aparente, iniciarem uma longa sequência de vai-à-frente-vai-atrás-ajeita-aqui-destorce-ali, acabando finalmente por deixarem o carro exactamente na mesma posição em que tinha ficado aquando da manobra inicial.
Ora bem, a repetição de movimentos estereotipados, mecânicos e potencialmente bizarros é um dos sintomas mais visíveis e comuns do autismo, tal como uma acentuada dificuldade em estabelecer relações sociais e afectivas. E o facto é que, quando embrenhadas nos seus vai-véns obsessivos, estas pessoas deixam de pertencer ao "nosso" mundo e não reagem nem a palavras como "Pára lá com esta merda!", "O carro está bom, car*lho!" ou "Estás-me a dar gases." Rígidos e inflexíveis, os condutores-autistas tornam-se muitas vezes agressivos e deixam de dar boleia a quem os confronta com esta situação. Por isso, deixo desde já um aviso: quando virem alguém preso entre a 1ª e a marcha-atrás, não tentem tocar-lhe ou chamá-lo à razão - o melhor é ligarem para o Júlio de Matos ou, se situação vos estiver a chatear, aviar-lhe com um ferro comprido
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Pais e Tomates

Local: Uma cozinha, algures na Baixa da Banheira, numa solarenga tarde de Sábado;
Hora: Entre o meio-dia e a uma da tarde;
Situação: O Filho chega ao Local, a determinada Hora, depois de uma longa travessia pelo hall e ávido por uma refeição decente. Aproxima-se da mesa e depara-se com uma travessa de feijão frade, postas de peixe-espada branco fritas e empilhadas num prato revestido a papel de cozinha, e grandes tomates vermelhos e maduros, tipicamente portugueses de tão grandes. Abeirando-se da mesa, o Filho deixa-se inebriar pelos odores típicos daquele repasto saloio ao mesmo tempo que, feliz, pega numa faca e num tomate e questiona o indivíduo conhecido por Pai "Estão lavados, os tomates?", ouvindo em resposta "Tu é que sabes se tomaste banho ou não...". O Filho faz uma pausa de 5 segundos, enquanto o seu cérebro meio adormecido processa aquela resposta bizarra, soltando de seguida uma grande e sonora gargalhada.
Moral da história: Não se deve questionar o Pai sobre os próprios tomates.

fevereiro 01, 2006

Ah pois é, Kohlberg!... (clicka-me se tiveres moral para isso!)

Lembro-me, quando andava na Faculdade (agora também ando, mas isso é outra história...), do paradoxo que eram as aulas de Psicologia do Desenvolvimento. Se é um facto que a matéria era realmente interessante, não é menos verdade que o Professor conseguia personalizar - já na altura!, - um cruzamento perfeito entre o Emplastro, o Jorge Sampaio quando discursa e D. Duarte Pio de Bragança. Ou seja, um personagem catita, mas secante.
E foi este personagem que, entre bocejos e desenhos fálicos nas mesas, me introduziu (eh lá!) no fantástico mundo do Desenvolvimento Moral.

"Mas as pessoas não nascem todas já a amar o próximo e a fazer o bem, mesmo que tenham que se sacrificar?", perguntam vocês. Não, só os totós é que fazem isso.
Existiu um fulano chamado Kohlberg que propôs uma sequência de desenvolvimento moral, universal e constituída por 6 estádios. Por exemplo, toda a gente sabe que, antes de partilharmos o nosso carrinho ou boneca de brincar com um(a) amigo(a) ou irmão(ã), vamos espancá-lo(a) violentamente cada vez que ele(a) se aproximar do NOSSO brinquedo. Mais tarde, começamos a fazer coisas para agradar aos outros, mas muitas das vezes (ou sempre, pronto) com ela fisgada, como abrir a porta às raparigas e deixá-las passar, com o nobre intuito de apreciar a beleza e perfeição das formas femininas e, quem sabe, acrescentar mais um número ao telemóvel.
E por aí acima, até nos conformarmos com as normas sociais, aprendermos a respeitar a lei e nos preocuparmos genuinamente com os outros, vivendo de acordo com princípios éticos lindos e universais. O problema é que, num mundo tão grande, milhões de pessoas, e às vezes famílias e países inteiros, encalham num dos níveis mais baixos (o Alberto João Jardim é um bom exemplo) e lá se vão a paz e o amor.
Por outro lado, para se subir na "escada", é indispensável haver interacção social, como nas conversas de café ou nas lutas de gangs, pois é aí que surgem dilemas morais que nos sussurram ao ouvido "Pá, olha que o nível 1 já não é para ti, vê lá se passas para o nível 2 antes que o Mário Soares se candidate outra vez a Presidente da República!".
Ora, todos nós já nos deparámos várias vezes com dilemas morais. Aliás, o dia-a-dia é um grande dilema moral divido em pequenas peças de puzzle que constituem vários dilemazinhos lixados e irritantes: Como um bife frito com batatas fritas e 10.000.000.000 de calorias, ou um peixe grelhado?; Estudo e aproveito as propinas de 600 euros que já paguei, vendendo o corpo no P. Eduardo Sétimo, ou vou sair e embebedo-me brutalmente, matando de uma só vez 1/4 das minhas células cinzentas?; Acelero e mato a velha na passadeira, ou travo e perco o barco?
Certamente nem sempre fazemos a melhor opção - eu, por exemplo, como muitos bifes e não tenho estudado muito (apesar de hoje ter comido peixe ao almoço e ao jantar). Vamos ver a seguinte situação:
- Imaginem que são o Tozé (vá, façam lá um esforço, as meninas também), um rapaz pouco abonado em termos físicos e intelectuais que, no auge dos seus 31 anos, nunca conseguiu ter qualquer tipo de contacto íntimo com uma mulher. Nem a mãe lhe dá beijos de boa noite;
- Certa noite, o Tozé, num acto de heroísmo e empurrado pela força de 4 Sagres Bohemia, salva a Isabel, uma gaja muita boa, de ser assaltada por um perigoso rufia de 11 anos;
- A Isabel, no nível 4 ou 5 de Kohlberg, está disposta a agradecer ao Tozé a sua coragem, propondo-lhe prazer físico intenso. O problema é que, como é casada, limita esta recompensa a sexo oral, com a condição do Tozé não lhe poder tocar;
- O Tozé nem quer acreditar no que lhe está a acontecer, e só consegue balbuciar "dahh.. uuhhg..." enquanto desaperta freneticamente as calças;
- Eis quando a Isabel lhe chama a atenção para o facto de ter herpes labial em estado avançadíssimo, com pus a escorrer da beiça, e lhe explica que o mais certo é pegar-lhe herpes genital, com direito a borbulhas, pus, crostas e uma comichão do caraças no dito cujo para o resto da vida dele.

O que deve fazer o Tozé?

1. Aceitar humildemente a oferta da Isabel e sujeitar-se a ficar infectado com herpes, ao mesmo tempo que tem, talvez, a única aventura sexual da sua vida, ou;
2. Recusar a oferta da Isabel, ferindo cobardemente os seus sentimentos mas assegurando que, apesar de virgem, vai conseguir mijar sem dores durante mais umas décadas.

Pois é meus amigos, é através de decisões deste género que todos nós vamos crescendo e subindo degraus no caracol moral. Porque há um Tozé em cada um de nós....